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Foto do escritorMá Âmbar

O suicídio e a vulnerabilidade social da pessoa LGBTQIA+

Atualizado: 29 de nov. de 2022


Quando falamos em prevenção do fenômeno do suicídio para pessoas em situação de vulnerabilidade social, na maioria das vezes não temos dimensão de quem são essas pessoas e do quão próximas a nós estas pessoas estão. Quando falamos especificamente de pessoas LGBTQIA+ imaginamos, na maioria das vezes, apenas as pessoas assumidas, mas existe muita gente que ainda não “saiu do armário” e que sofre as consequências de vulnerabilidade e sofrimento existencial de uma pessoa LGBTQIA+ assumida. Segundo o autor Andrew Solomon em seu livro Um Crime da Solidão, “A taxa de depressão é mais alta entre gays que não saíram do armário” (SOLOMON, 2018, P. 66). Este fato já é um alerta importante que nos volta para a necessidade de entender o porquê tantas pessoas tem medo de se assumir e com isso, potencializam o sofrimento de não serem aceitas como são, tanto pela família, como por amigos e colegas de trabalho.


Muito dessa realidade de não aceitação começa num ciclo de violência vivenciado pelo adolescente LGBTQIA+ que começa a se entender como “diferente”, ou seja, ele não se encaixa no padrão social heteronormativo; infelizmente só é considerado “normal” por grande parte da sociedade, quem é heterossexual. Não é escolha entender-se gay, lésbica, transgênero... Logo, é errado dizer que esta é uma opção sexual. Deste modo, a pessoa que possui a orientação sexual diferente da heterossexual acaba por ter dois caminhos pela frente: negar o que sente e como se entende frente à sociedade ou assumir-se e sofrer as consequências. Quando este adolescente se assume, é bem comum que a família o coloque na rua, onde não terá como se sustentar, será exposto à uso de drogas, tráfico e prostituição. A chances de emprego são diminutas justamente pelo preconceito que já o colocou na rua pela própria família, agora repete-se nas oportunidades tolhidas ao buscar trabalho formal. Situação também agravada pela evasão escolar. Estudar já era difícil morando com os pais diante do bullying, além de violência física e emocional que este adolescente sofre no ambiente escolar. Elevados números de evasão escolar se agravam ainda mais no caso dos transgêneros e travestis, que segundo dados da Antra Brasil (Associação Nacional de Travestis e Transexuais), tem sua média de vida restrita a 35 anos, onde sua morte é sempre violenta, tanto por assassinato quanto por suicídio.


Este ciclo de violência que exclui pessoas LGBTQIA+ já na adolescência precisa ser quebrado através de informações simples como a realidade, já comprovada pela ciência, de que ser LGBTQIA+ não é uma aberração, que é tão normal quanto ser heterossexual. Afinal, tanto a homossexualidade quanto a transexualidade já foram excluídas da CID, que é a Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde, entendendo que não se trata de uma doença, logo não deve ser curada, nem tratada como tal.


A psicóloga Karina Okajima Fukumitsu, em entrevista ao documentário que dirigi chamado “Suicídio – Assunto Urgente” nos alerta para a necessidade de pessoas em vulnerabilidade social voltarem a se sentirem pertencentes à sociedade em que vivem. Ela ressalta que uma pessoa em sofrimento existencial causado pela falta pertencimento social provavelmente será exposta a um “processo de morrência”, expressão cunhada por Karina que define a progressão do sofrimento que pode levar ao suicídio. Em pesquisa feita nos EUA com 4000 homens de 17 a 39 anos, 3,4% dos

homens héteros tentaram suicídio, enquanto 20% dos homens homossexuais tentaram suicídio. (SOLOMON, 2018). Diante disso ressalto a importância de levarmos informação de qualidade para as famílias e toda a sociedade para que a pessoa LGBTQIA+ possa ser acolhida já na sua adolescência, quebrando o ciclo de violência a que está exposta e também resgatando àquelas pessoas que não se assumiram de um poderoso sentimento de não aceitação e possível rejeição, por simplesmente serem elas mesmas, possibilitando a elas a realidade de serem aceitas e respeitadas em seu ciclo social.



Por Maura Âmbar - Diretora do documentário “Suicídio – Assunto Urgente” e da série "Fragmentos" / Docente da Pós-graduação em Suicidologia na USCS – Universidade São Caetano do Sul - onde ministra a disciplina de "Grupos de Vulnerabilidade LGTBQIA+". Coautora do livro "Educação para a morte - Ética, bioética, mídia e comunicação", Editora Phorte - e também é coautora do livro "Metamorfoses do Mundo Contemporâneo", Editora EDUC (PUC-SP)


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